
Existem situações que, sendo parte do quotidiano dos militares, caso presenciadas por civis, certamente seriam de difícil compreensão. Por exemplo: um militar, quando comparece a uma festa, mesmo num ambiente civil é obrigado - por força de regulamento - a observar se existe no local outro militar mais graduado, e deve cumprimentá-lo, pois se deixar de fazê-lo poderá estar incidindo em contravenção disciplinar. Caso deseje deixar o local, deve também procurar esse militar mais antigo e comunicar sua intenção de sair. Se estiver sentado, ao se aproximar um superior, deve levantar e oferecer seu lugar.
Segundo o Estat. dos Militares, são contravenções disciplinares: “(...) deixar o Oficial presente a solenidade interna ou externa onde se encontrem superiores hierárquicos de apresentar-se ao mais antigo e saudar os demais. Deixar, quando estiver sentado, de oferecer seu lugar ao superior”.
É a hierarquia que estabelece as fronteiras exatas entre os que obedecem e os que comandam. Obedecer e comandar, embora sejam situações distintas, são vividas quotidianamente por todos os militares, independente de que posto ou função ocupem, desde o recruta recém admitido, que deve obediência à todos ao comandante do exército, que deve obediência ao Ministro da defesa. Portanto, hierarquia é um fato geral dentro da caserna, capaz de ordenar todas as situações e indivíduos para que estejam dentro dos parâmetros de conduta exigidos pelo sistema. Mesmo que um pesquisador não consiga observar detalhadamente um determinado segmento militar em todas as suas atividades – as relações hierárquicas de uma pequena amostra desse segmento certamente lhe dariam indicações importantes de como é o funcionamento do todo. A partir dessas características podemos aplicar à hierarquia o status de fato social total2, já que é um fenômeno aceito por todos e que põe “em movimento a totalidade da sociedade militar e suas instituições.” 3 Continue lendo na Sociedade Militar